Alessandro Marimpietri

Entrevista com a psicóloga Vanessa Ribeiro a respeito do bullying nas escolas.

Site do Colégio Anchieta (http://www.colegioanchieta-ba.com.br): Entrevista com a psicóloga Vanessa Ribeiro

BULLYING, o vilão das escolas

O comportamento agressivo entre estudantes, expressado de forma física ou verbal sem qualquer motivo, conhecido como bullying, é um dos graves problemas enfrentados em todo o mundo. Colocar apelidos, humilhar, isolar ou até mesmo agredir fisicamente o colega são algumas das ações que refletem negativamente em todos os alunos das salas onde isso acontece. Para ajudar a esclarecer o assunto, conversamos com psicóloga Vanessa Ribeiro.

Anchieta: Explique–nos o que é o bullying.

Vanessa: O bullying é um termo proveniente da língua inglesa, usado para referir-se a atos de violência física e/ou psicológica de um indivíduo ou grupo para com outro, sendo intencionais, recorrentes e sem motivação aparente, havendo um desequilíbrio de poder entre as partes: o agressor e o alvo da agressão. Vale ressaltar que, ao contrário do que se costuma falar, o bullying não é um fenômeno novo, mas sim uma nova nomeação atribuída pela ciência a uma das faces da violência, numa tentativa ilusória de controlá-la por meio da classificação. Ao falar de bullying, precisamos considerar os fatores culturais que colaboram para o seu aparecimento, como o capitalismo, o individualismo. Não que tais fatores por si só provoquem o bullying, mas a sua aplicação extremista pode acarretar consequências negativas ao limitar as opções do indivíduo.

Anchieta: Hoje em dia acontecem mais casos de bullying do que antes?

Vanessa: O bullying, a delinquência, os problemas de conduta, a indisciplina, entre outros, são conceitos que se referem à violência escolar e esta é um fenômeno antigo em todo mundo. O que se considera recente são os estudos acadêmicos a respeito do tema no Brasil. A partir do crescente interesse e preocupação com a violência escolar e consequente aumento do número de pesquisas, este tema passa a ser um grande alvo da mídia. O fato desses casos surgirem de forma mais constante e endêmica tem relação com o contexto normativo atual, que incumbe o indivíduo a elaborar suas próprias regras, em detrimento da disciplina, prevalecendo o sentimento de insuficiência, já que o melhor nunca é o satisfatório e tudo pode ser alcançado. A contemporaneidade maximiza o individualismo, promovendo uma cultura narcísica.

Anchieta: Em qual idade escolar costumam acontecer mais casos?

Vanessa: É preciso uma pesquisa mais ampla para afirmar com certeza a maior incidência dos casos. Contudo, supõe-se que seja entre adolescentes de 11 a 15 anos de idade.

Anchieta: Qual é o perfil da criança e adolescente que sofre bullying?

Vanessa: Não falamos em perfil. Atribuir um perfil seria rotular crianças e adolescentes. O que se percebe, a partir das pesquisas divulgadas, é que há características comuns entre sujeitos que praticam e sofrem o bullying. Em geral, o agressor já foi, em algum monento, alvo do bullying. Para o agressor, a função do bullying é demonstrar poder e conseguir uma afiliação junto aos outros colegas. O repertório de enfrentamento de conflitos daqueles que praticam bullying se restringe a comportamentos agressivos e explosivos. Aqueles que são alvo do bullying normalmente apresentam alguma característica física ou emocional destoante dos demais, somado ao sentimento de insegurança e à falta de habilidade para reagir.

Anchieta: Que tipo de atos agressivos são praticados?

Vanessa:
Os atos podem ser diretos: agressões físicas, ofender, ameaçar, humilhar, extorquir dinheiro, roubar objetos, forçar comportamentos sexuais ou realização de atividades subservientes, entre outros; e atos indiretos: boatos, fofocas, exclusão sistemática de um colega. Além disso, há o cyberbullying, que é a utilização da tecnologia da comunicação, como a internet, para a realização do bullying.

Anchieta: Meninos e meninas praticam e lidam com o bullying de maneiras diferentes?

Vanessa: Em geral, as meninas apresentam formas mais sutis de expressar a violência do que os meninos, os quais se sentem mais encorajados a assumir posições violentas, refletindo os nossos padrões culturais e de socialização.

Anchieta: Como suspeitar que uma criança ou adolescente esteja sofrendo bullying na escola?

Vanessa: Atentar para mudanças no comportamento social da criança/adolescente, como tendência ao isolamento, recusa em frequentar a escola; sintomas psicossomáticos recorrentes; mudanças no comportamento emocional e afetivo; queda do rendimento escolar. Logicamente que a presença desses fatores não determinam que o sujeito esteja sofrendo bullying, mas devem ser considerados como indicativos para uma maior investigação.

Anchieta: Que tipo de danos pode causar o bullying?

Vanessa: O bullying pode causar dificuldades acadêmicas, sociais e emocionais para todos os envolvidos – agressor, alvo e testemunhas. O sujeito, alvo de bullying, tende a trocar constantemente de escola ou abandoná-la; apresentar baixa auto-estima, sentimentos negativos relativos a si próprio, distúrbios psicossomáticos; aumento da probabilidade de depressão e dos comportamentos agressivos, tendendo a tornar-se autor do bullying.

Anchieta:
O que os pais devem fazer ao saber que seu filho é vítima de bullying?

Vanessa:
Tanto a postura dos pais, demasiado autoritária, quanto o seu oposto, a demasiado permissiva, trazem efeitos negativos ao desenvolvimento da criança/adolescente, o que reflete no comportamento destes na escola. É importante que os pais reflitam se estão promovendo a autonomia dos filhos, ampliando o limiar destes às frustrações, as quais são inerentes ao viver. Dialogar com o filho, entendendo seus sentimentos e ideias em relação aos fatos, é sempre o mais indicado. Também é preciso que se aproximem da escola, participando do processo de educação dos seus filhos. Podem também buscar ajuda de um profissional (psicólogo) que os direcione na identificação e análise de tais problemas.

Anchieta:
O que fazer quando o próprio filho é o agressor?

Vanessa: De algum modo, todos – os agressores, os alvos e as testemunhas, são vítimas nos casos de bullying. Todos são prejudicados e merecem ser tratados como jovens que passam por problemas. Pensar numa intervenção para o agressor é pensar na promoção da sua saúde. O bullying, antes de ser uma questão legal, é uma questão de saúde.

Anchieta: Que medidas as escolas podem tomar para evitar esse tipo de comportamento?

Vanessa: Primeiro, é importante fazer a análise do contexto e das formas de poder vigentes no âmbito escolar, reconhecendo as subjetividades e a relatividade das ideias que coabitam neste campo. A partir daí, as escolas devem evitar medidas puramente punitivas e o estímulo à competição; promover a participação ativa dos estudantes nas decisões e organização do seu processo de educação, respeitando as ideias dos mesmos; promover o estabelecimento de vínculo entre os sujeitos na escola (professores, alunos e funcionários); focar no problema separando-o do sujeito, ou seja, o problema não é inerente à identidade do aluno; atuar em prol da “problematização” da violência, permitindo, assim, a reflexão e a atribuição de significados por parte dos envolvidos.

Anchieta:
O bullying é um fenômeno que só ocorre nas escolas?

Vanessa: O bullying pode ocorrer na família, no ambiente de trabalho, nos clubes, condomínio, entre outras instituições.



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